Era um rico
fazendeiro que no pedestal da sua glória financeira,
não gostava de descer do seu pedestal nem que fosse em detrimento da sua
própria família.
O tal
fazendeiro, que possuía quatro filhos, mas que no seu orgulho resoluto e cruel,
dizia que só tinha 3, pois a sua filha mulher para ele, é como se não existisse.
Fala alto e em bom tom que os filhos dele eram apenas três, os homens, que os
vivia exaltando e programando as suas vidas como se fosse parte integrante e
indivisível das suas fazendas e propriedades. No seu machismo cruel a sua filha
mulher não passava de um traste que mais cedo ou mais tarde haveria de ser
descartado. Ato continuo, a menina já atingia doze anos e cansada de tanta
humilhação, resolveu dar um basta nessas constantes humilhações e um dia, com o
coração cheio de mágoa abordou seu velho pai, tentando demove-lo de tão
absurdas ideias. Porem, o velho, senhor de si após escutar os argumentos da
filha, acabou dizendo que aquela conversa já o estava atrapalhando, tinha muita
coisa a fazer e não podia estar perdendo tempo com coisas inúteis e, se ela
quisesse ir embora que podia ir que para ele essa atitude não faria a
menor diferença.
A menina cabisbaixa e triste, sentindo enorme amargura no cerne do seu ser, resolveu partir para o mundo e para a vida, levando apenas roupa do corpo e alguns pertences pessoais e nunca mais deu noticias, mas sempre acompanhou sua família a distancia, seguindo todos os fatos, passo a passo. Os três filhos “machos” como o próprio pai os definia, cresceram. Foram para a cidade grande, para as melhores escolas, cursaram as melhores universidades do País, mas para desdita do pai machista e cruel com o sexo feminino, acabou por desmoronar o seu tão sonhado império transformando-o em mero castelo de areia. Os seus filhos machos não foram nem a sombra daquilo que ele pensava e pretendia para eles. Embrenharam-se pelo caminho dos vícios e muitas vezes o pai tivera de contratar advogado para tirá-los da cadeia. As coisas foram piorando cada vez mais e numa velocidade impressionante. Os seus lucros foram diminuindo e os seus recursos minguando cada vez mais, chegando ao ponto de ter que anunciar a venda da própria fazenda que havia sustentado com tanto esmero, pensando somente na prosperidade dos seus três filhos.
Uma vez anunciada a venda da fazenda, não faltaram propostas, cada uma mais tentadora que a outra, porem havia uma que mais lhe chamou atenção. O rico e agora totalmente falido fazendeiro não tinha alternativa, senão aceitar a proposta através do representante do proponente comprador. Todavia, sua única exigência era de que, uma vez concluído o negocio, ele pudesse continuar na fazenda, mesmo que fosse como simples empregado. Aceita a exigência, eis que lhe aparece uma senhora de meia idade acompanhada de um menino de oito anos presumíveis que a segurava pela mão. O homem no seu instinto machista esbravejou chamando-a de secretaria e dizendo que não negociava com mulher e que voltasse em seguida e viesse acompanhada de seu patrão para que o negócio pudesse ser concluído. E, a senhora sem mais delongas, se apressou a dizer-lhe que era ela a compradora de sua fazenda. O orgulhoso fazendeiro ficou sem palavras e como não tinha outro jeito, logo foi dizendo: “dei-me cá esses papeis para que eu assine logo e acabe com essa agonia.”
A mulher passou-lhe os papeis e caneta e o homem cabisbaixo e humilhado começou a assiná-los. Feito isso, deu posse imediata a nova proprietária. Aquela mulher, penetrando no interior da casa, de incontáveis recordações, desmanchou-se a chorar. E o garoto vendo que sua mãe chorava correu para onde estava o velho fazendeiro, também se desmanchando em prantos.
O menino na sua inocência de criança foi logo perguntando ao velho, - o senhor está chorando?
-Por que não acabamos logo com isso, pois minha mãe está lá dentro também se desmanchado em prantos!
- O Senhor não me reconheceu? Eu sou a sua
filha mulher que há 25 anos saiu por aquela porta e apesar do desprezo, nunca
conseguiu esquecê-lo, pois mesmo de longe acompanhei todos os seus passos e
esses papéis que o senhor assinou não é uma escritura de venda, mais sim uma
escritura de posse da fazenda que volta a ser sua. E, não se preocupe comigo
estou morando aqui próximo, numa fazenda que acabei de comprar. E, numa
apoteose de satisfação e alegria, abraçaram-se os três: pai, filha e neto,
pondo fim a uma história esdrúxula e indecente que aos nossos olhos e segundo o
nosso modo de ver é quase impossível de realização.
Obs. - Esta é uma reprodução de um texto-poema, do qual não foi possível identificar o autor, devido ter apenas ouvido o seu recitar melódico.
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