Cavera

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Feras do Rock

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Obra da Legião Urbana é Relançada

A Legião Urbana é vista pela direção da EMI Music como os Beatles brasileiros. Faz sentido: mesmo depois da morte de Renato Russo, em 1996, e o consequente fim da banda, ela continua detendo — dentro da gravadora — o recorde de vendas de discos no país. Em função de divergências entre Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá com a família Manfredini (Maria do Carmo e Carmem Teresa, mãe e irmã de Renato), havia algum tempo não era lançado nenhum produto com a grife da Legião.

Como há dois anos houve um acordo entre as partes, agora chega ao mercado uma caixa de luxo com os oito álbuns gravados em estúdio pela banda: Legião Urbana (1984), Dois (1986), Que país é este (1987), As quatro estações (1989), V (1991), O descobrimento do Brasil (1993), A tempestade (1996) e Uma outra estação (1997). Esse último saiu um ano depois da morte do band leader. Do pacote, ficaram de fora os discos ao vivo Música p/ acampamento e Acústico MTV.

O que os fãs de Legião, colecionadores ou curiosos vão encontrar nas lojas são CDs com edições de qualidade superior às anteriores — e também vendidos avulsos —, trazendo mais de 80 fotos inéditas e textos exclusivos de Christina Fuscaldo, sobre as circunstâncias em que cada disco foi gravado.

Há, ainda, LPs (2 mil exemplares) com vinil de melhor qualidade, sendo que dois deles saem pela primeira vez nesse formato, e todos com capas duplas, diferentemente das originais, que eram simples.

Distanciados artisticamente nos últimos anos, Dado e Bonfá voltaram a se reunir para acompanhar todo o processo de criação da caixa de CDs. “Quando fomos comunicados de que a EMI lançaria a caixa, vimos com bons olhos, pois é um projeto superbacana. Até porque com os CDs vieram LPs, em vinil de ótima qualidade. Quando eles saíram, o vinil não era tão bom”, comenta Bonfá.

Ao fazer coro com Bonfá em relação à importância da caixa, Dado destaca a qualidade do projeto gráfico. “Os encartes dos CDs trazem fotos inéditas e textos com informações que até então não haviam sido divulgadas e que, portanto, são reveladores, mesmo para quem acompanhou de perto a trajetória. A reedição da obra me deixa feliz. Ao voltar aos discos, me emocionei bastante.”

Possivelmente por motivos pessoais, ele atribui importância maior ao primeiro disco, aquele que apresentou a Legião Urbana ao Brasil. “Vejo no álbum de estreia a síntese de nossa adolescência em Brasília, a certeza do caminho que iríamos seguir. Era o ponto de partida de uma banda que depois viria a fazer parte da cultura musical brasileira e manter-se viva no imaginário das pessoas”, acredita.

Irmã de Renato Russo e uma das responsáveis pelo legado do líder da Legião Urbana, Carmem Teresa afirma que a família Manfredini sentiu-se honrada com o relançamento da obra fonográfica da banda. “A música da Legião, com essa reedição, perpetua-se e atinge cada vez mais as novas gerações. As fotos raras e inéditas, bem como os textos explicativos, contextualizam o trabalho do grupo historicamente. É um presente para a família e para os milhares de fãs da banda, que hoje está no rol dos importantes artistas da MPB.”

LEGIÃO URBANA
Caixa com os oito álbuns gravados em estúdio pela banda. Lançamento EMI Music. Preços sugeridos: box, $ 350; CDs vendidos separadamente, R$ 29,90; vinis simples, R$ 120 (As quatro estações e Descobrimento do Brasil), R$ 140 (Legião Urbana, Dois, Que país é este e V); e vinis duplos, R$ 190 (A tempestade e Uma outra estação). Pontos de venda: Fnac e Livraria Cultura.

» Legião Urbana (1984)
“‘Ah, não’... foi minha reação ao ouvir Geração Coca-Cola pela primeira vez, extasiado pelo fato de uma banda de Brasília ter assinado com uma major e zangado com a realização da profecia da nossa Minha renda (‘Faça o que eu te digo que te faço milionário!’). Mas nem tudo estava perdido. Teorema e Petróleo do futuro vieram com pressão. A dança, apesar da troca da letra — de ‘você vai ser um velho a mais’ para ‘tanto fez tanto faz’ —, veio forte. Baader Meihhoff e Soldados imprimiram uma seriedade que ressoaria rock nacional adentro. Nenhuma banda do Rio ou São Paulo dentro de gravadora estava com essa postura madura. Quando o Brasil descobriu a força da Legião, o rock nacional jamais seria o mesmo.” Philippe Seabra, vocalista e guitarrista da Plebe Rude

[FOTO2]» Dois (1986)
“Dois não é só o disco mais conhecido da Legião, é o momento em que eles encontram o equilíbrio perfeito entre um discurso jovem e politizado e uma poesia urbana aguçada. Os hits Eduardo e Mônica e Tempo perdido colocam Renato como uma das vozes de sua geração. Já Índios, Música urbana 2, Fábrica e Metrópole revelam o amadurecimento da temática social e política da banda, a tal ponto que fica difícil separar as sérias questões tratadas em cada uma delas dos verdadeiros sentimentos do compositor.”
Miguel Martins, vocalista do Watson

» Que país é este (1987)
“Que país é este consolidou a Legião Urbana como a grande banda brasileira que é. A música-título trouxe a indignação daquela geração e, nos dias de hoje, ainda nos causa o mesmo sentimento, diante de um país que clama por uma reforma política e pelo fim de tanta corrupção. O disco é ousado, traz a gravação da saga de João de Santo Cristo, talvez o mais longo hit que você ouviu tocar numa rádio. Angra dos Reis mostra uma Legião mais romântica sem ser evidente, música de arranjo simples e belíssimo.”
André Gonzales, vocalista do Móveis Coloniais de Acaju

» As quatro estações (1989)
“O quarto disco da Legião representou uma guinada temática (busca espiritual, homossexualidade, felicidade romântica) e poética (com imagens mais cotidianas) não compreendida por alguns, mas que me parece ousada até hoje. O trecho de Há tempos em que Renato canta ‘Disciplina é liberdade/ Compaixão é fortaleza/ Ter bondade é ter coragem’ é meu momento favorito de toda a obra da banda.”
Beto Só, cantor e compositor

» V (1991)
“V é um disco de que já gosto desde a capa — branca com os escritos dourados, os símbolos lua e estrela, e o número em algarismo romano. É um disco que sugere reflexão, porque temos o poeta preocupado com a crise da época (1991, era Collor) e também com seus problemas pessoais. Músicas que amo neste álbum: Teatro dos vampiros (a cara de Brasília); Metal contra as nuvens (quase uma suíte), Vento no litoral (tornou-se um clássico, belíssima) e O mundo anda tão complicado (preocupação do poeta com a delicadeza).”
Célia Porto, cantora

» O descobrimento do Brasil (1993)
“Aquela música com batidas marciais e os versos que ‘celebram a estupidez humana’ bateram forte em mim e, desde então, Perfeição passou a ser uma das minhas prediletas no repertório de Renato Russo. Interessante é que este disco une singeleza, melancolia, amor e desesperança em outras ótimas composições, como Vinte e nove, Vamos fazer um filme, O descobrimento do Brasil, Giz e La nuova gioventú, todas muito bonitas. Mas só a presença de Perfeição, para mim, já valeria tê-lo em casa.”
Marcos Pinheiro, diretor da Rádio Cultura FM

» A tempestade (1996)
“Hoje, evito escutar A tempestade, que é um disco pesado, com músicas compostas no período em que meu pai estava doente. Nesse CD, porém, há canções belíssimas. Via láctea é uma obra-prima, que começa falando: ‘Quando tudo está perdido/ Sempre existe um caminho/ Quando tudo está perdido/ Sempre existe uma luz…”. Quando você voltar e O livro dos dias são músicas que também me arrepiam.”
Giuliano Manfredini, filho de Renato Russo

» Uma outra estação (1997)
“O CD póstumo mantém o clima melancólico de A tempestade. As primeiras canções têm letras compostas por um Renato triste, mas o astral vai melhorando a partir de Comédia romântica. Logo depois, vem a grande pérola do CD, Dado viciado. Aborto Elétrico na veia! Mas a mais emocionante é Travessia do Eixão. O poema de Nicolas Behr (musicado por Nonato Veras) resume nossa devoção por Brasília. Que Nossa Senhora do Cerrado nos proteja (inclusive Renato, que ainda vive).”
Noélia Ribeiro, poeta, citada na letra de Travessia do Eixão

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